sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

A certeza


Depois de um ano e meio tive que tomar a iniciativa para formalizar o fim do meu casamento. Fiquei adiando, na esperança de que meu ex-marido iniciasse o processo. Nesses momentos, eu percebo que ainda não quero ver alguns aspectos da realidade.

É claro que ele não tomaria a iniciativa de iniciar o processo formal... Não assumiria a autoria das escolhas que foi fazendo ao longo dos anos.

E quando mandei um email, por orientação da minha advogada, para marcar uma reunião e ele respondeu: “Tu continuas a mesma, sempre decidindo as coisas, assim como o dia do nosso noivado, o dia do casamento, quando iríamos ter filhos e quando nos separaríamos... “, pude perceber que ele ainda coloca nos meus ombros a responsabilidade por decisões que tomamos juntos.

Num primeiro momento não consegui identificar o que eu senti ao ler o que ele escreveu. Depois procurei ir elaborando. E hoje, depois de uma semana já tenho a certeza do que me despertou o que ele escreveu: certeza da decisão tomada.
Na verdade, eu apenas concretizei o que nós dois destruímos. A diferença é que eu consigo perceber a minha parte na autoria do assassinato do nosso amor. Ele não.

Escondido sob manto do orgulho, não consegue perceber que quando diz que fui eu quem decidiu os momentos mais importantes destes trinta e um anos, na visão dele, pode significar que talvez não fosse exatamente o que ele gostaria de fazer. Mas eu tenho a certeza de que, todas as escolhas que fiz quando estávamos juntos, pelo menos nos primeiros vinte anos, foi por amor. Aquelas que fiz depois disso, foram escolhas para tentar manter o que já estava arruinado.

Trabalhos teóricos realizados até altas horas da madrugada, transferências para lugares insuportáveis que eu procurei achar maravilhosos, solidão durante os cursos de aperfeiçoamento, lágrimas de tristeza por me sentir só e insegura durante as incontáveis noites de serviço, apoio nos momentos de insegurança, incentivo para que ele crescesse profissionalmente, com dois bebês pequenos entender que era preciso economizar, então eu cuidaria de tudo sozinha, desrespeitos e traições não assumidas...
O nosso amor foi sendo desconstruído, foi se desintegrando e morrendo. Procurei sinalizar que ele estava morrendo, mas não fui ouvida. Então só coube a mim, abrir a cova e enterrá-lo.

O amor, como todas as energias do universo,não termina, é transformado e transmutado. Em alguns casos em mágoa, raiva, ódio, em outros, em nostalgia, carinho e respeito, no nosso caso, tomara que não se transforme em indiferença, mas sim em aprendizado.

Que possamos, eu e ele, reconstruir a nossa trajetória, nos permitindo voltar a amar, com respeito e sinceridade às pessoas que cruzarem os nossos caminhos e, que jamais nos esqueçamos de que o amor é algo que precisa ser cuidado, que  não há lugar para egoísmo, deve ser permeado pelo respeito, precisa ter espaço para as individualidades, que cada um precisa ter um tempo para si para curtir as suas coisas, que fidelidade vai além dos corpos, não pode ser forçada, é construída de mãos dadas com o respeito, principalmente, aos sentimentos. 

A vida é feita de vários ciclos, uns se completam, outros iniciam, até que a trajetória nesta vida se complete e, como diz Chico Xavier: “Embora ninguém possa voltar atrás e fazer um novo começo, qualquer um pode começar agora e fazer um novo fim.”




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