segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

A coragem

Na minha penúltima publicação  falei da minha falta de coragem para experimentar...
A questão é que eu não sou uma pessoa sem coragem, portanto é claro que experimentei!
Dei uma chance para o acaso, que me apresentou a uma pessoa muito especial, uma pessoa dotada de valores pessoais verdadeiros, de uma pureza de sentimentos que chega a me assustar e, acima de tudo, com uma autenticidade que chega a incomodar.
Mesmo com uma leitura de mundo restrita, pois desde que chegou a capital, só trabalha e os momentos de lazer se restringem a pequenas voltas pelas redondezas, é uma pessoa que me encanta.
Fico me perguntando como alguém assim surgiu em minha vida e o que devo aprender com tudo o que está acontecendo.
Longe de ser uma pessoa perfeita, pois a essa altura da minha vida, não tenho mais uma visão romântica dos homens a ponto de vê-los como príncipes, até porque o príncipe da minha vida já se apresentou há trinta anos e eu levei mais de vinte anos para percebê-lo como um simples mortal (não seria adequado  dizer que acabou se transformando num sapo boi).
É alguém que tem um quê de maturidade surpreendente quando, mesmo com palavras simples e diretas, fala do otimismo, da importância de sermos felizes e do quanto precisamos acreditar em nós mesmos.
Alguém com uma doce bondade a ponto de ir a um mercado  comprar bolachas recheadas para crianças que estão na rua.
Alguém que passa por uma favela e diz com um suspiro profundo: que triste isso...
Alguém que ao olhar para a imensidão do mar diz que jamais vai esquecer daquele momento, me olha e diz: muito obrigado por isso...
Somos de realidades completamente diferentes, sem falar do abismo do número de anos que nos separam. Isso mesmo, um abismo cronológico. Isso me assusta. Faço algumas contas de cabeça e fico mais preocupada ainda.
O que se faz quando alguém te pergunta se você toparia começar do zero?
Confesso que me deu uma vontade de ir até a janela e começar a gritar.
Por que isso não aconteceu há 30 anos atrás?
Fico pensando que a essa altura não é mais possível começar do zero. Um dia foi possível, quando eu tinha 20 anos! Hoje não é mais possível...
A águia já passou pelo processo de transformação, está na segunda metade da sua vida, não é possível zerar esse processo, pois essas transformações foram os alicerces para o hoje.
Quero apenas e com cuidado viver um dia de cada vez, e que a cada dia possamos aprender um com o outro. Que o aprendizado traga o mínimo de dores, mas equilíbrio e crescimento para duas almas que se querem bem...
               





terça-feira, 22 de novembro de 2011

Perguntas

O que fazer quando as idéias que construímos em relação à psicologia, relações interpessoais, espiritualismo, religiosidade e sobre o amor entram em profundo conflito?
O que fazer quando descobrimos que não gostamos de fazer o jogo que envolve a conquista quando estamos conhecendo alguém e nos perguntamos se precisa ser assim mesmo?
O que fazer quando ouvimos o que mais queríamos ouvir, mas isso acontece no momento errado, com a pessoa fora dos padrões de idade e nível sócio-cultural?
É nesse ponto que todos os meus conceitos, construídos até o momento, entram em conflito...
Sou uma pessoa curiosa e por isso gosto de entender os motivos, razões, causas e, se possível, prever as conseqüências dos movimentos. Seriam movimentos do astral ou cósmico? Sim, porque a essa altura não ando conseguindo entender muita coisa, apesar de achar que estou numa relação melhor comigo mesma.
Cheguei a ficar com o coração apertado por Blue Eyes não me procurar, por isso me afastei da internet e de qualquer contato. Qual a surpresa? A pessoa me procurou via telefone levou um não e ainda continuou me convidando para sair...
Por que as pessoas são tão complicadas assim?
Será que sou básica demais? Não acredito... Sou complicada em vários momentos, isso tem sido difícil de administrar.
Será que sou do tipo que vê cabelo em ovo ou chifre em cavalo? Pode ser...
Quantas perguntas neste trigésimo terceiro texto da minha caminhada de descobertas... Perguntas sem respostas.
Ao longo de um ano de vôos  rasantes, altos, rápidos, lentos, para caçar, para fugir, para observar, aconteceram situações assim: carinho, desejo, saudade, palavras de amor, beleza, olhos azuis/verdes(a cor dependia da umidade do ambiente, segundo o dono dos olhos), caixa de bombom, elogios, olho no olho.
Foram diferentes pessoas, em momentos breves, atrasados, antecipados, fugazes...
Bem que poderia ser uma pessoa que reunisse todas essas manifestações em momentos de maturidade, respeito, equilíbrio, para que uma nova estrada pudesse começar a ser construída aos poucos, com cuidado e sem pressa, com uma afinidade que pudesse ser traduzida pelo olhar, tão profundo a ponto de não necessitar de palavras que traduzam a energia do momento. Uma cumplicidade que ultrapassa o tempo como nós o conhecemos. Não seriam almas gêmeas, apenas duas almas que combinaram de se encontrar e, ao se encontrar, a memória dos registros espirituais de encarnações do passado fosse capaz, através da intuição, lembrar que há um caminho para trilhar e muito aprendizado a ser realizado.


terça-feira, 15 de novembro de 2011

Fugaz...

Existem momentos em que na mesma medida que são muito especiais, são extremante fugaz.
Momentos em que queremos guardar na memória cada detalhe, cada gesto, cada olhar e palavras que são ditas ou não, olhares que são como encontros de almas que não se viam há muito tempo. Encontros que talvez não aconteçam mais ou se acontecerem serão diferentes, melhores ou piores, mas jamais iguais.
Já havia escrito em outro momento que sou espiritualista, desta forma acredito que as situações quando acontecem tem uma razão importante, pois certamente trazem uma lição a ser aprendida. Através da nossa intuição, quando não está atrapalhada por situações do cotidiano, podemos sentir o que devemos aprender em relação aos momentos e pessoas que cruzam o nosso caminho.
Mesmo tendo como aliada a intuição, acabamos por nos deixar vencer pelos moldes e estereótipos da sociedade em que vivemos, que nos cobra o que ela considera certo, independente das nossas crenças.
 Acredito que a nossa vida é uma matrix. Por quê?
Porque vivemos em mundo provisório e transitório e de certa forma a humanidade está adormecida acreditando que este é o mundo real e, quando o corpo morre, cada um de nós se depara com a verdadeira vida : a vida do espírito que é eterno.
E assim vamos construindo a nossa presente vida, a partir das ações, resultados  das nossas escolhas, que por sua vez vão desenhando a estrada e o caminho a percorrer.
No entanto,  covardemente nos rendemos aos sorrisos e aprovações dos hipócritas, que não suportam conviver com alguém que com coragem se permite ser feliz, fora dos padrões estabelecidos.
            Tudo isso é muito forte,  são marcas que carregamos por várias encarnações.
E me pergunto: Porque certas situações acontecem e certas pessoas cruzam o nosso caminho?
O que elas têm para ensinar sobre quem somos em nossa essência, o que temos para mostrar a elas, na medida que nos desacomodam  e inquietam a alma?
Volto ao início para falar dos momentos fugazes... Não quero deixar de lembrar o sorriso, as palavras, o perfume, a essência do que foi dito. Queria poder acessar esses momentos,  em minha mente, como um filme que foi gravado com todo o cuidado. Mas a lembrança vai se apagando.
Mesmo com o passar do tempo, pelo menos não quero esquecer do aprendizado que ficou em relação a minha fragilidade e falta de coragem em não me permitir pelo menos experimentar...

domingo, 13 de novembro de 2011

O porto seguro

Decidi que não vou mais fazer críticas em relação às mulheres que escolhem continuar casadas, mesmo sendo um casamento falido, triste, sem vida ou alienante.
Escolher sair de uma situação dessas requer uma boa dose de coragem antes, durante e, principalmente depois. Ainda mais quando se tratam de casamentos longos, que foi o caso do meu.
Quando amamos, estamos certas de que vale a pena investir, independente do sofrimento que temos, porém hoje me pergunto se deve realmente ser assim, já que esse processo levou mais ou menos uns dez anos.
Será se o que chamamos de amor não é um sentimento de amizade, parceria, mágoas, teimosia, proteção, comodidade, e outras possibilidades que não me ocorrem neste momento?
Amor é um sentimento mais complexo e profundo... Tem a ver com a gente abrir não de certos defeitos, mas sem sofrer. O que me ocorre, é principalmente o fato da gente além de querer estar bem e feliz, desejar que o outro também esteja bem e feliz.
Quando nos separamos é mais ou menos como se pegássemos o carro e fossemos por uma estrada onde não sabemos as curvas, os atalhos, se o asfalto está bom e, principalmente, aonde chegaremos. Sem falar no fato de que existe uma grande preocupação se o carro não vai nos deixar na mão. Tudo é incerto... Pelo menos assim tem sido comigo.
Sinto-me desprotegida, diante de uma imensidão de possibilidades que chegam a me amedrontar. Desafios financeiros, com o trabalho, com os filhos, escolhas afetivas e, estar só, nos momentos que eu gostaria de poder contar com alguém, nem que fosse só para me ouvir.
Precisamos estar preparadas para as incertezas, já que não teremos quem critique ou limite as nossas escolhas, o que por um lado é maravilhoso, mas por outro, nos fará assumir os riscos e conseqüências das nossas opções. Podemos chegar em casa e não ter que, mesmo cansada ou irritada, dar atenção e ouvir as histórias do dia dele, mas também não teremos com quem compartilhar o nosso dia. E mesmo que ele não esteja muito a fim de escutar sobre o nosso dia, sabemos que está ali.
Blue Eyes, num momento “sentimento”, disse que eu precisava de alguém para me proteger, já que ele percebia que eu era uma mulher inexperiente.
Não sei se preciso de alguém para me proteger, mas acredito que quero alguém que invista afetivamente em mim e que, de preferência, não tenha um perfil egocêntrico.
Estar em uma relação estável nos dá a sensação de segurança, de que estamos em um caminho conhecido, ou pelo menos, com um traçado familiar.
Um casamento é um porto seguro, mesmo que seja infeliz, esteja em ruínas e nenhum navio possa mais atracar, ainda assim é um porto seguro.
Eu preferi abandonar o porto seguro e como uma criança cheia de expectativas, via mil possibilidades, o desconhecido naquele momento era sinônimo de esperança...
Em um ano, muita coisa mudou externa e internamente. Vivi situações que jamais pensei que viveria, a minha esperança hoje é uma esperança um pouco mais madura, não mais uma esperança mágica, mas confesso que ainda me sinto como se tivesse sido deixada no meio de um turbilhão e que preciso encontrar uma saída em busca do equilíbrio.
E como a metáfora da águia sempre acompanha os meus novos momentos, poderia dizer que é como se a águia fosse deixada num lugar desconhecido, solitária, distante do seu habitat.
E ali ela ficou... Observando e traçando estratégias para não ser devorada pelos seus predadores. Então ela se deu conta que podia voar, e voando podia encontrar o caminho para reconstruir a sua nova vida...


quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Fragilidades

           Eu tenho um defeito entre tantos que possuo, quando estou doente tenho uma grande vontade de me sentar e começar a chorar (ou em pé mesmo). Isso acontece desde criança, parece que sou tomada por uma fragilidade incontrolável e todas as minhas emoções represadas vem como um tsunami varrendo toda a fortaleza que eu procuro ser.
Pois eis que há três dias estou com uma gripe gigante que ontem piorou terrivelmente, que nem os antitérmicos estavam fazendo efeito. Tenho pilhas de trabalho para fazer, minha chefe embora tenha uma fala super, ultra, mega compreensiva, a sua energia me diz justamente o contrário: ela fica muito incomodada quando a gente tem que se afastar do trabalho. Quanto a isso, não posso fazer nada...
Minha filha me buscou no trabalho ontem e quando eu entrei no carro disse que estava pior da gripe e que nesses momentos eu tenho vontade de chorar. Para minha surpresa, ela me disse: nem me fala em chorar... E desabou a lacrimejar.
É claro que no mesmo instante recolhi o meu choro, pois a minha filha estava precisando mais do que eu desabafar (será?). Falou das loucuras do pai, do quanto ele a magoou durante a tarde, já que ele estava com ela para fazer os últimos documentos para que ela possa embarcar no cruzeiro que vai trabalhar, daqui a cinco dias.
Entre febril, entupida tentei consolar minha filha, lembrando que o pai é uma pessoa atrapalhada, egoísta, que só pensa nele, mentiroso, manipulador e LOUCO!!! Não, eu não falei nada disso, fiquei no atrapalhado...
Chegamos em casa, ela mais calma, eu com mais febre e entupida...
A noite foi de cão. Febre e tosse. Mas antes de dormir, Blue Eyes falou comigo, pelo MSN sendo até atencioso, mas é evidente que o meu entupimento febril se transformou numa rinitisinha quando contei para ele, o que até comentou que tinha a ver com o estresse.
Acordei e fui direto para o trabalho consultar com a médica. Receitou-me um saco de remédios e me disse que a febre tem que passar em três dias, no máximo. Espero que passe...
Fui à farmácia comprar o “kit peste”, ainda tossindo e entupida... Quando a atendente, uma senhora muito esforçada, olha para mim ao preencher a requisição do antibiótico e me pergunta: Sexo? Pensei: que merda, estou tão acabada que ela não está conseguindo identificar que sou do sexo feminino.
Ficamos nos olhando alguns segundos, ela esperando a minha resposta e eu pensando em dizer: cortei o pênis ontem, por isso essa minha cara de sofrimento... Só pensei, não disse, sou comportada e compreensiva.
Mas quando cheguei em casa, desabei, chorei tanto que além do nariz entupido, fiquei com o ouvido, os olhos e acho que os demais buracos do corpo.
E rezei. Desesperadamente pedindo perdão sei lá eu do que e perguntando a Deus ou aos espíritos que tivesse ali por perto, por que eu tenho que ser forte, porque não posso mostrar a minha fragilidade, porque não encontro alguém que me carregue no colo pelo que eu sou e não por aquilo que devo parecer? Por quê?
Dei-me conta que estou cansada e Blue Eyes tinha razão: acho que estou sobrecarregada...
Minha filha vai viajar, preciso estar a postos com orações e energias para tudo dar certo, preciso pagar as contas, lembrar de afastar as energias negativas que o ex anda mandando, cuidar, mesmo que de longe, do meu filho, mas preciso cuidar de mim.
Preciso cuidar de mim...

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Olhos: janelas da alma

Uma mistura de sentimentos... Praticamente uma salada de frutas...
Não é uma salada de frutas, pois salada de frutas eu adoro e esse turbilhão me incomoda e me assusta um pouco.
A intuição fica borrada pela razão, que por sua vez se atrapalha com o coração, as emoções e sentimentos. O que fazer?
Tenho feito algumas descobertas importantes sobre mim, uma delas é que eu jamais vou viver sem amar alguém....
É muito bom curtir, querer, beijar, sonhar, abraçar, apertar, sorrir, debochar, fazer amor...
Quando me separei, fiz um tipo mulher forte (não que eu não seja), eu me basto.
Quanta bobagem! É claro que eu não me basto! E eu sabia que quando alguém mexesse com o meu coração seria assim. E é claro também, que por razões que talvez quando eu estiver do outro lado da vida eu entenda a pessoa que mexeu comigo é alguém complicado... Nem sei se poderemos um dia falar de sentimentos.
Mas essa sou eu. Alguém que insiste em ver além dos olhos do corpo quer ver os olhos da alma, e quando a gente vê a alma, a maioria das percepções se tornam sem importância. De quais percepções eu estou falando? Daquelas que tem a ver com o modo como a pessoa se veste os defeitos que você jura que poderá conviver, mesmo que à distância, o discurso que quase como uma armadura, protege as fragilidades e os medos.
Você olha nos olhos, no fundo deles e lá você enxerga o que nem a pessoa se dá conta que existe dentro dela, você vê uma vontade enclausurada no medo de se entregar...
Eu não precisava ter visto nada disso... Bastava-me ter visto o que estava visível... Mas sou uma ariana corajosa, que ousou olhar a alma do outro...
           E aí... Bem aí um estado de apaixonamento me invadiu o espírito. E a cada encontro, um pouco da alma se revela, timidamente, com medo de se machucar.
Tenho um amigo (aquele que me tira das nuvens e me traz para o mundo real) que me disse: Deleta o cara da tua vida!
Pois é, excluir da lista do MSN é a parte mais fácil, o problema é esquecer o olhar, o abraço, o cheiro, o som da voz ao dizer “maneiro”, o olhar bricalhão quando eu conjugo os verbos errado, o carinho...
Se eu estivesse vivendo essa história há 30 anos atrás, na mesma época em que eu conheci meu ex marido, talvez eu fechasse os olhos, da mesma forma que fiz lá atrás, e buscasse de todas as formas, amar esse ser que lá no fundo, mas bem no fundo, tem uma meiguice especial e apaixonante.
E foi isso que eu fiz durante trinta anos, amei o lado especial do meu ex, até o momento que o seu lado ruim começou a me fazer murchar, enfraquecer e desfalecer...
Hoje, por me amar mais do que aos outros, não tenho o direito de permitir que o lado obscuro de alguém sequer arranhe a minha esperança e o meu desejo de amar. Eu acredito em algo muito maior, que talvez eu possa sintetizar com a palavra LUZ.
A luz que ilumina a escuridão quando estamos com medo, a luz que cura as feridas da alma, a luz que nos guia através de caminhos tortuosos, a luz que aquece o coração, a luz abençoada do AMOR.

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Migalhas

A águia voou durante toda a semana, entre o trabalho, as preocupações da casa, contas a pagar e, é claro, a ansiedade de ver Blue Eyes.
Foi uma longa semana, com várias entradas no MSN a espera de um contato, algo que sinalizasse o desejo, a saudade, o querer rever...
Havia a orientação da minha terapeuta sobre o convite. O convite poderia me salvar, mas só se eu tivesse coragem para fazê-lo e isso, eu não tinha certeza.
E a sexta-feira chegou. Filhos se organizando para sair, pedidos de carona e eu no MSN. Iniciei o contato. A conversa, mesmo sem delongas foi se estabelecendo. Até que eu tive coragem para perguntar: Vamos fazer alguma coisa hoje?
Fechei os dois olhos (o raio da baixa auto-estima, eu não precisava me sentir assim, afinal sei que sou uma pessoa especial... Será?). Fui abrindo um olho de cada vez, bem devagar com medo de enxergar a resposta.
“Vamos tomar um vinho aqui em casa?”
E aí faltou luz! Sim faltou luz, a internet caiu e eu não consegui responder!!! Meus filhos começaram a achar engraçado a minha agitação, pois perceberam que eu estava combinando alguma coisa no MSN. E tudo aconteceu, quando a luz voltou, principalmente que eu não conseguia me conectar.
Após momentos de intenso suspense e exaltação aos céus e aos anjos responsáveis pelas conexões computadorizadas ( se é que eles existem nessa categoria) consegui dizer que iria, mas que antes precisava deixar minha filha na sua festa. É claro que a minha filha se atrasou e, em vez de eu chegar à casa dele às 22h30, cheguei às 23h35, mas cheguei.
É incrível o que a expectativa faz com a gente. Olhando Blue Eyes falar, consegui dizer para ele que gosto de ouvi-lo (ainda bem, pois ele não me dá muito espaço para falar), comecei a pensar que talvez esteja buscando uma maneira de sofrer, que estou começando a pisar em um terreno perigoso.
Ele é um carioca que não gosta das terras gaúchas, está aqui obrigado por uma transferência involuntária e não vê a hora de voltar.
Enquanto ele discursava, eu pensava: onde eu me encaixo nesta história?
Em lugar nenhum, eu me respondi. Isto me fez ver as coisas de outro jeito, um jeito mais racional. Ah! A razão... Não sei se me protege ou me aprisiona.
E ainda por cima ele não acredita em Deus. Como assim???
Como eu o percebo? Um homem que se protege atrás de um discurso, um homem machucado por razões que eu desconheço e que neste momento, quero me proteger dele, pois se eu realmente me apaixonar posso ter grande chance de me machucar. E isso, vamos combinar, é um perigo.
Essa é a minha fugaz história com Blue Eyes...
Ontem, passando os canais da TV a cabo, passei pelo filme Comer, rezar e amar.  E é claro, na parte em que o amado da Liz, fala do amor, da coragem, do quanto ele quer ficar com ela, do quanto ela é importante para ele. Naquele momento eu pensei: acho que mereço alguém que lute por mim.
Quando eu tiver certeza disso, sei que não vou mais aceitar migalhas de homem nenhum.
Que a águia que habita em mim se fortaleça!!!!

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

E a águia voa...

Não tem como a gente não pensar em Deus, numa situação destas. Até porque sou espiritualista, acredito na reencarnação, que a verdadeira vida é na espiritualidade, na energia do planeta Terra, na energia que aproxima ou afasta os seres encarnados, no poder da natureza, no poder curador da água e das ervas, nos cristais e por aí vai...
E quando a gente se vê tomada por uma sensação destas, não tem como não pensar em algo divino!
O fato de poder escrever sobre isso e tantas outras coisas relacionadas à trajetória dessa águia que habita em mim, me faz muito bem, me harmoniza. É praticamente como uma terapia.
Que sensação é esta? É a sensação de ser tocada pelo jeito da outra pessoa, de querer ser correspondida, de tocar no rosto delicadamente, de beijar, de querer estar junto, de ouvir a outra pessoa sem dizer nada, de ficar olhando sem que o outro perceba. São muitas sensações...
Minha mãe, um dia desses, me disse para tomar cuidado: - os homens são espertos e farejam de longe quando uma mulher está carente! – pois é, carente eu estou, mas não me considero uma idiota, embora também não me considere uma esperteza em forma de gente, mas posso dizer que estou me tratando para acreditar mais nas pessoas, sou muito desconfiada, o que acaba, em muitos momentos, sendo um problema, pois não me entrego. (dá para perceber o porquê a partir do comentário da minha mamãe...).
Blue Eyes não faz jogos de sedução, não utiliza palavras melosas, nem tão pouco as românticas, mas tem algo de “um carinho sem querer” que ultrapassa as barreiras do inconsciente.
Não tenho grandes expectativas em relação a nós, a única coisa que penso é que  gostaria de vê-lo mais uma vez. E essa vontade me deixa nervosa, feliz, insegura, radiante, ansiosa, sonhadora.
Somos muito diferentes...
Mas essa sensação é incrivelmente maravilhosa e encantadora!
Se não nos encontrarmos mais (a minha terapeuta sugeriu que se ele não me convidar para sair eu devo convidá-lo. Confesso que não sei se vou conseguir, pois tenho medo de ouvir alguma desculpa ridícula, caso ele não aceite) não me vejo chorando ou “curtindo” uma deprê.
Foi bom, encantador e confuso...
Enquanto eu acariciava seu rosto da última vez que nos encontramos eu pensava em silêncio: tomara que a gente se veja de novo, Blue Eyes...”
E a águia voa...

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Blue Eyes

Já coloquei em outros momentos que as relações afetivas tem um papel “mega” importante na minha vida.
Relações afetivas... Amar e ser amada, é isso o que eu quero dizer. A minha essência é romântica, sensível, carinhosa, e quando estou confiante, sei ser muito sensual. Bem, isso não costuma acontecer seguidamente, me permitir ser sensual.
A questão é que, no contexto atual, não posso me mostrar para aquelas pessoas que conheço. Tenho a “assessoria amorosa” da minha terapeuta, que me situa neste contexto maluco da atualidade, em que as relações são extremamente complicadas, e vamos combinar que na minha idade, as pessoas são muito mais complicadas, problemáticas, traumatizadas e com um enorme medo de se entregar, tipo eu, por exemplo.
Às vezes fico pensando o quanto vai ser difícil eu conseguir ter um outro relacionamento, apesar de hoje conseguir assumir que: NÃO QUERO FICAR SÓ E DESEJO MUITO AMAR NOVAMENTE. É claro que tenho um que de ansiedade, não sei se por conta de eu ser uma ariana ou  devido as características da minha personalidade, ou as duas coisas juntas . O que importa é que, acreditando no ditado que diz “o universo conspira a nosso favor”, ando plasmando no campo das energias que pairam no universo, um amor para mim.
Por conta disso, um dia desses conheci um rapaz. Um tipo um tanto estranho, diferente. Mas por uma conjuntura sei lá eu de onde, o cara tem a mesma profissão do meu ex. Fazer o que...
Bem, algo começou a acontecer aqui dentro. Uma sensação estranha, ansiedade, falta de concentração, parece que estou conectada de alguma forma com ele. Como disse a uma amiga, acho que estou “meio apaixonada”. Sei lá se isso existe...
O cara não é do meu estado, está aqui provisoriamente, não fala em sentimentos (acho que nem poderia, pois só nos encontramos três vezes). Não sei o que ele pensa a meu respeito, mas acho que no mínimo deve ter me achado uma pessoa interessante, pois me convidou para sair mais de uma vez.
Tenho também um amigo, que me disse que não importa o que ele pensa de mim, mas como eu me sinto em relação a ele. Achei muito interessante esse ponto de vista, apesar de que ele também me disse que tenho que ter o cuidado para não ficar pensando só em mim... Eu nem poderia fazer isso, pois não faz parte da minha maneira de ser...
Voltando ao rapaz que conheci, a qual chamarei de “Blue Eyes” , ele tem algo no  olhar que toca no fundo a minha alma. Quisera eu também tocasse  sua alma...
           Quanta coisa eu tenho vontade de dizer para ele, quanto carinho tenho vontade de fazer, como eu gostaria de despir a fantasia de “está tudo sob controle”, para mostrar a energia que percorre o meu corpo quando ele se aproxima de mim...
           Mas as coisas, não são assim. As pessoas vivem cheias de defesas e eu não sei ainda se ele merece me conhecer.
          Se eu pudesse, e se fosse politicamente correto (falando dos jogos da sedução que ocorrem no inicio dos relacionamentos), eu diria: sou uma águia que está reaprendendo a voar, venha voar comigo, vamos nos conhecer e voar juntos até quando valer a pena...

sábado, 17 de setembro de 2011

Pra rua me levar

Eu estive num estado de apaixonamento por muitos anos e isso foi muito bom na minha vida. E como toda pessoa apaixonada, procurava conviver com os defeitos do meu amado de uma maneira otimista.

Mas como a vida está em constante movimento, eis que as coisas começaram a mudar e por mais ou menos uma década fui-me desapaixonando. Os defeitos dele passaram a me fazer muito mal, roubar a minha energia e tornar o meu caminho triste.

Era hora de mudar. E com muito sofrimento me desapaixonei, depois de viver apaixonada por mais ou menos vinte anos. Muito tempo...

Hoje, depois de aprender a me amar (ainda estou em processo de aprendizado), após um ano de separação, ando sentindo uma vontade, digamos, bem intensa, de me apaixonar novamente. E como as músicas têm uma grande importância na minha vida, uma em especial, expressa exatamente como me sinto, neste momento. Vamos a ela:

Pra rua me levar – Ana Carolina.
Não vou viver, como alguém
Que só espera um novo amor
Há outras coisas
No caminho aonde eu vou...
Às vezes ando só
Trocando passos
Com a solidão
Momentos que são meus
E que não abro mão...
Já sei olhar o rio
Por onde a vida passa
Sem me precipitar
E nem perder a hora
Escuto no silêncio
Que há em mim e basta
Outro tempo começou
Prá mim agora...
Vou deixar a rua me levar
Ver a cidade se acender
A lua vai banhar esse lugar
E eu vou lembrar você...
É!
Mas tenho ainda
Muita coisa pra arrumar
Promessas que me fiz
E que ainda não cumpri
Palavras me aguardam
O tempo exato prá falar
Coisas minhas, talvez
Você nem queira ouvir...

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

A força da águia

É interessante a minha maneira de lidar com algumas situações...
Acho que desenvolvi ao longo dos anos, uma estratégia de lidar através da racionalização ou negação com algumas coisas que me magoavam profundamente.
Dizem os psicanalistas, que os mecanismos de defesa servem para preservar o nosso aparelho psíquico de dores ou traumas que nos atingem.
As dores, que me acompanharam em muitos momentos, vinham como tempestades arrasadoras que por vezes davam a sensação de que iriam me enlouquecer. Sentia-me desorientada e muito só, com uma sensação de que iriam destruir a minha vida, pelo menos a forma como a minha vida estava estruturada. O interessante é que esses vendavais sempre estavam associados a minha vida amorosa...
Sempre consegui lidar com os desafios da vida de maneira corajosa e equilibrada, mas quando se tratava das coisas do coração, bem aí tudo se complicava. Lembro que desde quando comecei a ter amores platônicos, eram situações que me faziam sofrer.
Quando apareceu na minha vida adolescente, um menino que fez muito feliz e demonstrava me amar incondicionalmente, eu literalmente, o desprezei. Tenho a sensação de que até hoje vivo as conseqüências dessa imprudência imatura e maldosa daqueles momentos da minha adolescência...
Quando não agüentei mais o meu casamento, desejei ardentemente que o meu ex não tentasse voltar. E ele não tentou. E a sensação que a princípio foi de alívio, foi se transformando em desprezo, em certeza que ele não me amava mais, em dor por sentir que eu não era mais amada, em medo de nunca mais ser amada.
Acho que não sou uma pessoa insuportável, não sou feia e acredito que tenho qualidades interessantes...
Tá, e daí? Depois de um ano, estou sozinha e arrancando os pelos pubianos de desespero de ficar só para sempre... Brincadeirinha!
Que bom poder escrever sobre a minha dor... Ficou mais leve!
Tomara que um dia, se eu conseguir publicar esses textos, alguém possa se sentir confortado, e fortalecido pela força da águia que habitam em mim.

Que assim seja

Mais de um mês sem escrever uma linha...
Tem sido difícil, desafiador e solitário os momentos que venho passando.
Às vezes uma sensação de que a estabilidade não vai mais fazer parte da minha vida. De qual estabilidade eu falo?
Do porto seguro de ter alguém ao nosso lado. É claro que eu fico arranjando desculpas, não tão inconscientes, sobre ser melhor estar sozinha do que mal acompanhada, procuro me lembrar dos momentos de companhia solitária que vivia junto ao meu ex-marido, e confesso que a dúvida ronda o meu pensamento: será que fiz a coisa certa?
Devo estar enlouquecendo, ainda bem que faço terapia e estou desesperadamente buscando fazer ioga, para lidar com esses momentos que teimam em me desconcentrar. Tenho esperança que ioga vai me ajudar.
Preciso me harmonizar. Preciso amar... Quero amar...
Um dia desses ouvi, não lembro onde, que quando a gente está nessa fase de “querer doar amor”, o ideal é fazer alguma atividade solidária. Não deixa de ser uma idéia interessante, mas o que eu quero mesmo é fazer caridade para mim.
Realmente ando me sentindo muito só e atraindo pessoas complicadas, o que não tem me feito muito bem.
Quero pegar na mão, beijar, trocar carinhos, ser admirada, respeitada e, definitivamente, não nasci para ficar sozinha.
O que o destino me reserva? Qual deve ser a minha aprendizagem? Até quando vou ter que sentir essa dor?
A sensação de que ninguém mais vai gostar de mim é algo que tem me deixado deprimida. Sei que eu tenho que me gostar... Mas quando a gente percebe que alguém nos “curti” isso é muito especial.
Não quero ser uma águia solitária...
Preciso me voltar novamente, como há um ano, para a força da águia. Essa águia que habita em mim e que me fará voar novamente. Estou me enclausurando na caverna.
Preciso rezar... Aos espíritos que habitam a natureza, às forças supremas, a Deus, ao meu Anjo da Guarda:
Queridos seres da espiritualidade, me ajudem a superar esse momento. Que eu não me coloque em mãos que não vão valorizar a minha sensibilidade, o meu carinho, a minha coragem, a minha força e principalmente a minha luz interior.
Que eu não permita que ninguém diminua a minha luz ou queira se aproveitar da leveza do meu coração. Se alguém especial cruzar o meu caminho, que eu veja queridos amigos da espiritualidade. Ajudem-me a enxergar com os olhos do coração, quando essa pessoa se fizer presente na minha vida.
Mas acima de tudo, me ajudem a parar de buscar um amor, acalmem o meu coração, POR FAVOR!
Obrigada por tudo!
Que assim seja...

domingo, 31 de julho de 2011

Amputações

Lendo um artigo publicado pela escritora Martha Medeiros sobre a associação entre o filme 127 Horas e os desafios da vida amorosa, imediatamente me conectei com a sua idéia e relacionei com a minha vida. Talvez porque eu esteja justamente me adaptando às conseqüências das “amputações”, título do seu artigo.
Quem assistiu a esse filme, pode se envolver desde o momento da euforia, da paixão que o aventureiro tem em explorar cânions, até o seu desespero quando se vê obrigado, para sobreviver,  a amputar o seu braço, preso por uma enorme pedra depois de 127 horas. Situação extremamente traumática e comentada por alguns telespectadores mais frágeis para este tipo de cena, pois foi realmente forte de assistir.
As amputações... Quando me propus a relacionar o fim do meu casamento com essa situação, fui tomada por dois sentimentos: alívio e dor.
Alívio por me sentir autorizada a sofrer o trauma e as dores da amputação de me desapegar da história de trinta anos que estava impregnada em todos os órgãos do meu corpo. E dor, por compreender que realmente não é uma situação fácil de enfrentar, pois além do ato de tomar a decisão (amputar) é necessário lidar com o período, não menos difícil, de tocar a vida sem uma parte da gente.
Avançando um pouco mais nas situações do filme, posso comparar o início do meu sonho amoroso com a paixão que o aventureiro tinha por explorar os cânions. Um prazer capaz de levar a momentos de grande felicidade e realizações. Mas lá pelas tantas, por razões que eu não sei precisar, começamos a ser imprudentes, e ignoramos os sinais de perigo.
Os cânions perigosos, as brigas desrespeitosas, as fendas estreitas, os olhares de desprezo, as condições climáticas desfavoráveis, não querer mais investir na relação.
E aí ficamos presos! E foram milhares de sufocantes e desesperadoras horas em que lutamos insanamente para tentar remover a grande pedra que estava destruindo aos poucos a nossa vida. Num primeiro momento, ao percebermos o problema achamos que era fácil remover o obstáculo, mas aos poucos fomos percebendo que sozinhos não conseguiríamos. Foram momentos de angústia, desespero, alucinações e uma sensação de que a morte se aproximava.
Então, entre momentos de consciência e loucura, percebemos que era inevitável a amputação.
Assim, após esse ato desesperado de sobrevivência saímos do domínio da rocha que nos aprisionava e corremos. Uma corrida desesperada em busca de socorro, de alguém que pudesse nos socorrer e nos levar para bem longe daquele lugar. Precisávamos de remédio.
Agora, quase um ano depois, eu, ex mulher, ex esposa, ex companheira, ex amiga, ex amante, estou aprendendo a viver uma vida diferente. Uma vida em que o desafio maior é estar atenta para não deixar de apreciar a beleza e o encanto do amor, do companheirismo, da cumplicidade, dos abraços, dos desacertos (já que não existem relacionamentos perfeitos), mas acima de tudo, com todo o cuidado de quem está em recuperação, cuidar com os cânions, que apesar de deslumbrantes obras da natureza, se eu não for prudente e cuidadosa, posso ter meu coração aprisionado novamente.

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Museu dos relacionamentos desfeitos

É irônico que quando passamos por algumas situações, uma coisa vai puxando a outra, como que se houvesse uma força invisível que atraísse para nós fatos que se assemelham ao que estamos passando no momento.
E há essa força invisível. As teorias da física quântica, por exemplo,  estão aí para mostrar que a força do nosso pensamento é poderosa o suficiente para atrair forças de igual sintonia.
Eu diria que não é só isso. Em alguns momentos estamos mais perceptivos e notamos algumas coisas, que antes nos passavam desapercebidas. É uma questão de foco.
Pois que, depois do sofrimento do desapego, no fim de semana, um jornal em um dos seus cadernos, publica uma matéria sobre “inventário do amor que acabou: museu dos relacionamentos desfeitos chama a atenção para a preservação das recordações afetivas”. Esse título torna claro do que se trata a matéria. E eu, com tudo amontoado na sala de estar, de um apartamento microscópico, não poderia deixar, depois de ler a matéria, parar na parte da sala que é possível transitar, ficar olhando demoradamente para os objetos acomodados uns por cima dos outros,  e pensar em qual objeto eu colocaria no museu.
A proposta do museu dos amores desfeitos, além de mostrar a fragilidade dos laços humanos, é contextualizar a época em que tais histórias aconteceram.
Precisei pensar muito em qual objeto eu escolheria para colocar no museu. Não queria que fosse um objeto ou presente que me deixou feliz ao recebê-lo. Teria que ser algo significativo e que tivesse a ver com o processo de desamor, que fez com que nosso casamento acabasse.
É claro que encontrei o objeto. Foi o último presente de aniversário que ganhei do ex. A começar pela forma como foi escolhido, foi revelador como já estava sendo um peso escolher algo para mim. Ele pediu que eu fosse junto, me levou no centro da cidade, na joalheria de um conhecido maçom e escolheu uma medalha com o símbolo da maçonaria: Você gostou?

Se eu gostei? Sinceramente isso não importava mais, pois se eu dissesse que não, isso provocaria um mal estar que não valia à pena provocar. Sim, estava bom, desde que não brigássemos, foi o que pensei naquele momento. O que me marcou nessa situação não foi o que ele tenha pensado ao escolher esse presente, mas como eu me senti: não importava mais. Isso me sinalizava que o fim estava próximo.

E queiramos ou não, os objetos estão impregnados do sentido que damos para eles. O que importa na verdade são os nossos sentimentos, a forma como lidamos com as nossas emoções, o quanto vamos deixando para trás os nossos sonhos, o nosso amor próprio. E se não nos amamos, ou pelo menos nos respeitamos a ponto de não nos colocarmos em situações que nos farão mal, não temos como cultivar uma relação amorosa saudável.

Se vamos morar junto, separados, teremos a mesma profissão, profissões diferentes, salários iguais ou diferentes, teremos a mesma faixa etária,  a mesma religião, ou teremos crenças políticas opostas... Isso realmente não importa, quando entendemos que a essência do ser humano não está somente no que ele mostra, mas no que ele mostra e acredita, e essa diferença é sutil, mas perceptível aos olhos do coração.

Que a águia tenha coragem de sair da caverna da transformação para reconstruir o seu novo lar, mas que ela não despreze o seu passado nem se esqueça das dores da transformação. Que essas dores não a paralisem, mas a tornem forte para voar, se aventurar por novas paisagens e acompanhar seus filhotes à distância.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Desapego 2

Deixei para última hora a arrumação, pois imaginava que se tivesse que fazer tudo rapidamente não teria muito tempo para pensar... Que ingenuidade!
Resolvi começar pelas roupas dele que ainda estavam no armário...
Foi um sofrimento indescritível! Foi como se eu tivesse tirando do armário as roupas de alguém que havia morrido. O meu sofrimento foi tanto que o meu corpo doía, eu podia sentir os meus órgãos doendo.
E realmente ele morreu... O meu amor por ele morreu. Cada peça de roupa, cada objeto, os fardamentos, os sonhos, foram sendo arrancados um a um de dentro do armário, e de dentro do meu ser.
Depois de tirar todos os seus objetos, a praga do armário é enorme, comecei a retirar os meus, que também estavam imantados da minha energia, dos meus sonhos, desejos, de objetos de uma vida em comum que durou nada menos que trinta e um anos, o guardanapo do dia do casamento, os bilhetes apaixonados, as fotos...
O fim se concretizando num outro estágio da separação.
Confesso que não tinha me dado conta de que essa situação me abalaria tanto. E doeu, doeu muito, uma dor física, quase insuportável.
E nesse processo, de retirar, acomodar os objetos do passado, fiquei indignada, pois mesmo no fim, eu estava arrumando e organizando as coisas para ele. Eu estava entre lágrimas e soluços, retirando e acomodando as coisas para que ele só tivesse o trabalho de levar.
Nesse processo houve um fato, que se não fosse trágico seria cômico. Havia uma espada, pois além da espada militar o dito é maçom e tem esses objetos do ritual e um deles é a tal espada. Algo pesado, que fazia parte do ritual num determinado nível, que ele já avançou.
Freud certamente, se vivo estivesse, e eu tivesse a oportunidade de deitar no seu divã, concordaria comigo que espadas e armas, que o ex sempre gostou, têm algo relacionado à fragilidade da sexualidade masculina. Seria isso?
Queria muito rir com esse gênio da psicanálise, já que em outros tempos e situações eu o achava viril e ao mesmo tempo assustador... Hoje? Bem, hoje há o vazio...
Pois que a tal espada, estava entre o fundo do armário e uma prateleira, e estava numa posição que se assemelhava à espada do Rei Arthur, tanto que eu tive que entrar no armário para “arrancá-la”.
Qual o poder que ela me trouxe? A liberdade para viver uma nova história.
Depois que o armário foi esvaziado totalmente, entrei no quarto e olhei ao redor... Não havia vida, nem energia, só o vazio que uma separação deixa. Frio, morte, medo...
Fisicamente eu estava acabada. Meus filhos ao final do dia, quando chegaram em casa depois do trabalho (ainda bem que eu estou em férias) ficaram preocupados com o que viram, pois me perguntaram o que havia acontecido.
O que eu gostaria de ter dito é que neste dia eu enterrei uma parte de mim, que eu estava de luto. Que neste dia, ao longo das doze horas em que estive envolvida com esse ritual, eu me confrontei com o fim, com a morte de uma história de amor que eu acalentei por tantos anos.
Mas me resignei em dizer: tive um dia difícil.

Desapego

Definitivamente a separação tem alguns passos que passamos querendo ou não. Guardando as peculiaridades de cada caso, acredito que são parecidas independente dos casais que se separam.
Penso que os casais que abrem mão do casamento, quando há uma terceira pessoa envolvida, a dor não deve ser tão grande, pois necessariamente o vazio não se concretiza. Mesmo quando chegamos ao ponto de entender e aceitar que não está mais dando certo e que, tem grande chance de não dar certo nunca mais, e por isso damos o primeiro passo à frente, como que prontas para um fuzilamento, lá pelas tantas temos que olhar no fundo dos olhos da dor.
Poderia dar um nome para essa dor: desapego.
E essa senhora é tão ardilosa, que deixa que a gente pense que já está tudo desapegado. Doce e ilusório engano.
Fiquei frente a frente com a “Sister Desapego”, quando eu nem imaginava que ela estava a me rondar e dando risadas da minha ingenuidade.
Um ano antes da minha separação, estávamos fazendo planos para reformar o quarto que estava com mofos nas paredes (ironicamente como o nosso casamento) e o armário que nos acompanhou durante quinze anos, não resistiria a ser desmontado e montado novamente, depois de várias mudanças.
Ah, o armário... Peça física, com gavetas, prateleiras, cabideiros, calceiros, sapateiros e impregnado da minha história de amor, esperança e sofrimento.
Quando o senhor meu ex-marido saiu de casa, é evidente que como todo o macho, deixou para trás além das marcas de tristeza no meu coração, muitos objetos e roupas, no dito armário, afinal precisava mostrar que o território ainda era dele.
E eu, fugindo do sofrimento que iria enfrentar depois, não me indignei com essa atitude, afinal quando fiz um pequeno ensaio de revolta e pedi para que ele levasse tudo que era seu do apartamento, ele, aos berros, disse que eu devia entender que ele estava se organizando, pois estava saindo da casa para que eu ficasse.
Que pessoa terrível seria eu se não entendesse... E por isso, entendi.
Mas eis que por razão da minha rinite, precisei tocar adiante o projeto do “tira os mofos”, e obviamente, tinha que encaminhar o dito armário, para o seu fim.
Sou uma esotéria-espírita, uma definição que não existe, mas que para mim quer dizer uma pessoa que acredita na força da energia que irradiamos e na sobrevivência do espírito após a morte do corpo, com todos os detalhamentos que isso significa. Com isso, acredito que os objetos ficam imantados com a nossa energia, seja ela boa ou ruim. E não poderia ser diferente em relação ao armário em questão.
Esse objeto foi comprado a partir de um sonho que tivemos de mudar o nosso quarto. Levamos dois dias montando peça por peça, desde a colocação das dobradiças até a colocação dos puxadores, e desde então vinha nos acompanhando por mais de quinze anos. Ele tinha vida, estava impregnado da nossa energia.
Quando que eu descobri os meus sentimentos em relação a ele (armário)? Na sessão de terapia dessa semana, em que eu me dei conta, junto com a minha terapeuta, que eu não estava conseguindo esvaziar o armário, pois isso significava mais um passo da concretização da morte do meu casamento.
A sessão de terapia terminou com o seguinte comentário da minha terapeuta: vai ser muito difícil esse momento.
E foi...

sábado, 16 de julho de 2011

Estar só

Um dia desses, depois de um dia de trabalho em que vários problemas resolvem acontecer ao mesmo tempo, fui correndo para casa como se eu quisesse me esconder.
Na minha profissão, problemas nas relações interpessoais são as minhas ferramentas de trabalho, por isso é necessário desenvolver algumas habilidades que vão desde o equilíbrio no momento da escuta, a perspicácia para se dar conta das sutilezas das histórias apresentadas, até (essa eu considero mais difícil) um grande amor pelo ser humano a ponto de ajudá-lo a se dar conta de algumas dificuldades nas relações com o outro. Não é que amar o outro fraternalmente seja algo difícil, mas o desafiador é a linha tênue entre o afeto e a razão. E esse sentimento pode ser o carinho ou a raiva, quando, por exemplo, alguém ameaça te processar por você dar o limite numa situação de desrespeito às normas de convivência.
Nesse dia eu estava especialmente fragilizada, já que precisei reunir forças para dar conta de várias situações difíceis.
Quando cheguei em casa vivi um momento especialmente mais difícil. Meus filhos não estavam (foi até melhor) sentei-me na beira a minha cama e ali fiquei, vestida e de crachá dependurado no pescoço, por um tempo que não sei precisar exatamente quanto foi. Lembro do meu cachorro, um pequeno yorkshire, pulando nervosamente na minha frente, tentando me dizer: não fica assim... Reaja!
Mas foi difícil... Tomada por uma solidão dolorosa, sentindo um vazio de amor no meu coração, querendo o calor de um abraço, alguém que além de escutar, pudesse entender o quando foi difícil aquele dia, e pudesse me dizer o quando me admira por eu ser corajosa e competente em administrar essas situações. Percebi que tenho medo de não conseguir me apaixonar novamente e comecei a pensar, e não poderia ser diferente, se terminar um casamento de tanto tempo foi a melhor decisão.
Lembrei do dia do casamento, de tantos episódios que vivemos como família e... do quanto eu também estava só... Do vazio interior que aquela relação me causava e do quanto eu sofri para manter o meu casamento. Fiquei aliviada por um lado, mas continuei triste por outro.
Percebi que estou ferida e que a minha ferida ainda não está cicatrizada, mas mesmo ferida quero amar. Antes eu achava que era preciso esperar um tempo, mas hoje percebo que o tempo é um tempo maior, que não pode ser mensurado em muito ou pouco, pois não sei o quanto ele dura, não pode ser medido em minutos, horas, dias ou meses, pois esse tempo vai durar até que, por alguma força que rege o universo, duas almas se cruzarem, se encontrarem, se olharem, se escutarem, se beijarem, se abraçarem e descobrirem que se amam...
Esse tempo a gente não controla, pode ser hoje ou daqui a dez anos...
E quero acima de tudo, que o meu coração esteja aberto, harmonizado e amadurecido para perceber quando chegar a hora, e que eu não perca a capacidade de sorrir, de me divertir, de ser bem humorada e de bem com a vida, enquanto a hora não chega.
Que a águia não esqueça que voar está na sua natureza, o tempo de estar reclusa na caverna já passou...