sexta-feira, 3 de junho de 2011

Dores da transformação

Estou vivendo um momento de intensos aprendizados, mas um dos maiores eu acredito que seja ouvir o que pessoas conhecidas pensam sobre o meu momento.
Durante o tempo de casada convivi com muitas pessoas das relações sociais/profissionais do meu ex-marido. Essas relações se confundiam ou acabavam se transformando em pessoais, porque, por ele ser militar e morarmos em residências militares acabávamos convivendo de forma mais próxima com as famílias dos colegas de trabalho dele.
Acredito que ao longo dos 30 anos em que estivemos juntos, entre namoro e casamento, fomos a referência para muitos casais que nos conheciam ou conviviam conosco.
 A maioria deles hoje são ex-casais.
A minha visão sobre como nos viam, era a de que éramos um casal quase indestrutível, embora hoje eu me dê conta de que em muitos momentos algumas pessoas me olhavam com um “quê” de pena. Era uma sensação que eu tinha em alguns momentos.
É verdade também que, mesmo depois de um momento de tristeza e brigas, e que tinhamos algum evento social para ir, em que eu apelava por todas as receitas que eu conhecia sobre como desinchar os olhos, ele demonstrava na frente dos outros um grande carinho e cumplicidade. E era muito bom acreditar nisso. E acredito que foram esses momentos que fizeram com que eu  me agarrasse com unhas e dentes a essa relação, pois afinal: quem iria me tratar com a mesma atenção? E os olhares tipo “olha como ele é apaixonado por ela” enchiam o meu ser de segurança e felicidade (e isso foi dito por uma colega na ocasião em que fomos a um baile do meu trabalho).
Mesmo que nos bastidores da convivência as coisas não se acontecessem bem assim, sei que o que vale é a impressão que fica: você abriu mão de um homem maravilhoso e apaixonado por você...
Lembro de uma vez, numa destas atividades sociais com os colegas dele, em que a esposa de um deles comentou que agora que o marido havia galgado o mais alto posto, estava ganhando bem, imagina se ela iria deixá-lo para que “outra” usufruísse desses benefícios...
O que eu sei é que a farda alimenta várias fantasias femininas e que cada um paga o preço pelas suas escolhas...
Eis que ontem, a esposa de um dos seus colegas de farda, hoje também aposentado como ele, com uma história parecida com a nossa, muitos anos de casados e que foram nossos vizinhos de “muro”, nas casas funcionais, apareceu no meu trabalho, por razões que não tinham a ver comigo, mas nos encontramos.
Sabendo da nossa separação, demonstrou extrema surpresa: mas vocês eram um casal perfeito, lembro dele estendendo a roupa no varal, te ajudando, eu achava aquilo tão lindo!!!
Falava com uma nostalgia, demonstrando a pontinha de inveja daquela época, que me contagiaram. Realmente aquilo acabou, ou melhor, já estava acabado havia muito tempo, pensei.
Claro que logo veio a frase clássica: “ele tem outra!!! Um homem não muda assim, ainda mais se ele não te procurou mais...”
Confesso que gostei de estar naquele lugar de coitadinha naquele momento... Principalmente com os conselhos que vieram a seguir: “Menina você está ótima, tem que sair, arranjar alguém pra você, não fica só pensando em trabalho!”
Senti-me autorizada pela sociedade para estar disponível para um novo relacionamento...
Mas é claro, que depois, quando estava voltando para casa, outra sensação invadiu o meu ser: que merda, não deu certo, ele não me quis mais, estou sozinha, pensando nas contas, preocupada que o meu filho anda bebendo demais, que a minha filha não está cuidando da sua saúde e ainda por cima pediu demissão do emprego cheia de contas, eu estou no negativo no banco, estou com uma baita conjuntivite que vou ter que ficar de molho, o cara que eu estava saindo não entra mais em contato comigo... E chorei...chorei muito... Chorei tanto que não sei se meus olhos estão inchados da conjuntivite ou por eu ter chorado ou pelas duas coisas...
Quando eu fui ao hospital, na emergência para tratar meus olhos, olhei ao meu redor e vi os casais (porque nestas situações em que a gente está deprimida, parece que todo mundo anda aos pares e só você está sozinha) e pensei que em outros momentos, em que já sabia que o meu casamento estava falido, eu via as mulheres sozinhas na emergência esperando para consultar e pensava: que triste deve ser estar só e doente..
Hoje eu estou nesse lugar... Nem preciso dizer que saí do hospital aos prantos, tendo que usar óculos escuros em plena noite fechada..
Mas nada como um dia depois do outro, com uma noite no meio.
Apesar de todos os desafios que eu estou passando, das preocupações, das inseguranças e das tristezas, eu tenho uma certeza: eu vou conseguir construir uma nova vida, pois como a águia que renasce depois da transformação, eu estou mais forte...

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