domingo, 29 de maio de 2011

O aprendizado

Estava pensando sobre que tipo de águia eu fui antes do meu renascimento.
Acredito que eu era uma águia que mesmo sendo perspicaz não tinha a noção dos dons que a natureza me deu. Um deles é o de colocar no papel situações que consigam passar ao leitor, mesmo que este leitor seja eu, as emoções que envolveram cada momento ou situação descrita.
Outra habilidade que eu não sabia que possuía como águia, é o poder que as minhas asas tinham de alçar longos vôos, observar o firmamento e as belezas da natureza, o encanto de cada situação que se desenrolava ao longe e a habilidade de observando, ir a busca daquilo que fosse o melhor e que fizesse com que a águia pudesse expressar a sua beleza.
E por não conseguir se dar conta de suas habilidades as asas foram se atrofiando. Alguns pequenos ensaios foram feitos ao longo dos trinta anos em que a águia se dedicou a cuidar do seu ninho. Mas foram vôos cheios de culpas e sob olhar atento e limitador da águia macho.
A dinâmica da relação deste casal de águias era muito interessante... O macho jamais proibiu a fêmea de voar, no entanto sob um poder quase mental, tentava mostrar que a fêmea não era capaz de voar como ele.
E este macho voou...
            Ao longo dos trintas anos esse macho conheceu novos firmamentos, novas pessoas, brilhou na sua profissão, tinha o apoio da águia fêmea, que acreditava que tão somente cuidar do ninho era a sua função. E quando, em momentos de mágoa ou fúria, abria as suas asas, expunha as garras e com o olhar poderoso de uma predadora tentava mostrar o seu poder como fêmea era imediatamente castrada ou pelo poder da ameaça da força física do macho ou pelo seu poder de sedução. E tanto um quanto o outro foram suficientes para manter as lindas asas da águia fêmea encolhidas sobre seu dorso.
A fêmea podia sim em alguns momentos usar o poder das suas asas para voar, não sejamos injustos, mas era quando o macho desiludido ou desesperançado se deprimia, aí então a fêmea voava com esse macho para mostrar a beleza das paisagens, alçavam vôos espetaculares, caçavam juntos, brincavam no ar, até que ele se sentisse feliz novamente. Então a fêmea recolhia as suas asas, e não mais voava por longos períodos.
Mas a natureza é sábia e tudo está encadeado num ciclo perfeito e os momentos de transformação chegam, querendo ou não, eles chegam e pegam de surpresa aqueles que não conseguiram ou não quiseram entender o ciclo da vida.
Pegou a águia macho de surpresa...
Pois os machos, independente da espécie a qual pertençam (com algumas exceções) estão tão focados em si, que não percebem quando um tsunami está por vir, principalmente quando se tratam das questões emocionais. E ainda no caso desta águia macho, por estar tão envolvido no seu orgulho e vaidade, acreditou que poderia continuar voando sem fazer a parada para a transformação, o renascimento.
Mas a fêmea parou. E se recolheu. E decidiu que não queria mais compartilhar o ninho com aquele macho, pois esta seria a sua morte, o seu fim.
E depois de um período de mais ou menos 10 anos, pensando na idéia do recolhimento e transformação, foi necessário passar pelo trauma das trocas de bico, penas e unhas...
Hoje a águia está renovada, mas ainda com cicatrizes profundas causadas pela transformação. Toda a transformação deixa marcas. Às vezes a águia se assusta com o poder das suas asas e com a sua habilidade de caçadora. Ainda volta para o ninho, agora com os filhotes quase saindo para construir os seus ninhos, aliviada.
Ao amanhecer se permite planejar qual o vôo vai realizar e sabe que poderá buscar qualquer firmamento, nada poderá deter o seu poder.
Porém, carrega no coração uma tristeza profunda, que só o tempo vai curar... o tempo e todos os vôos que essa águia fará em busca da sua harmonia e da sua felicidade...

Um comentário:

  1. Neste texto ( aliás feito para todos refletirem), a águia está aprendendo a dar sozinha seu próprio voo, a encarar o horizonte como um novo desafio.
    Querida águia, lembra-te sempre que "predadores" circulam sempre,e às vezes sutilmente, em revoadas ao redor e que os olhos aguçados de uma águia deve estar sempre atenta, mesmo achando que pode voar sozinha.

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