domingo, 22 de maio de 2011

A "noite"

A noite sobre a qual quero escrever não é a estrelada, com ou sem lua e tão pouco a noite após o sol se por. Falo da noite em que pessoas se encontram, para beber, dançar, se encontrar e se perder...
Ao som de uma música ao vivo, ou talvez de uma música mecânica, pessoas se cruzam, se olham, se buscam e se perdem, nos bares, pubs e bailes da vida.
Não acredito estar sendo pessimista, mas talvez realista demais ou pouco romântica, pois hoje sou uma destas pessoas a qual  chamarei de “estropiados emocionais”. A palavra não é muito bonita, mas eu acredito que descreve perfeitamente o estado emocional da maioria das pessoas, que na noite, buscam (algumas delas desesperadamente) encontrar-se.
Não buscam o outro, mas a si mesmos.
O exército de estropiados emocionais, são pessoas, que como eu , estão com o coração ferido e se protegem de todas as formas de um novo ataque emocional. Ao protegerem-se , criam-se barreiras em que o que vale são as sensações físicas.
E não faltam conselhos do tipo: “o que vale é aproveitar o momento!” Mas ele passa... e o que restará?
Somos seres criados na sua essência para amar. E quando fugimos da nossa essência, nos perdemos entre medos, mentiras e sensações.
Mas como o exército de estropiados, pode se expor a um novo ataque? Não pode...
Por isso, depois de ir três vezes para a noite, percebi com grande clareza, os detalhes das estratégias do olhar, do flerte, do ataque, do elogio, do abraço, da pegada, do beijo, da dança, que são tentativas desesperadas de encontrar a si mesmo e proteger-se do outro.
Muitas palavras sinceras, cuja duração não ultrapassa a noite, e se desintegram ao amanhecer...
Pobre de nós... Seres que se protegem, por estarem demasiadamente machucados, inexplicavelmente solitários e irresistivelmente desesperados para amar. E incrivelmente indo na direção oposta, achando estar indo na direção certa.
Corações feridos e descrentes da essência que é o amor.
Por isso, a menos que por alguma razão que não se sabe ou não se entende, se as barreiras não forem desmanchadas, e as pessoas possam se olhar nos olhos, a noite termina com uma sensação maravilhosa, mas como quando se compra um carro zero, a euforia se desfaz e como que no desespero da privação de alguma droga, volta-se pra noite, num círculo vicioso infinitamente cruel.
Tentei dançar solitariamente feliz, mas soldados do exército dos estropiados vieram até mim e eu, por estar demasiadamente machucada com o coração guardado a sete chaves, sorri... e sorrindo dancei, e dançando me entreguei para os elogios, as falsas verdades... afinal é esse o propósito da maioria dos freqüentadores da noite: se divertir!
E o ser humano é tão incrível, que cria na sua mente a ilusão verdadeira de que está mesmo se divertindo: e está.
Hoje eu entendo perfeitamente a fala de uma pessoa amiga que certa vez me disse: não é na noite que se encontra um amor. Há exceções, mas são exceções.
E o tempo vai passando... Independentemente da idade, dos 20 aos 60, seres feridos, amargurados, protegidos pela barreira da sedução, buscam desesperadamente ser feliz, buscam a si mesmo no olhar do outro.
Enquanto que a beleza está na simplicidade do amor, do encontro de almas, pois os corpos envelhecem, murcham e morrem, mas o espírito, que é a nossa essência, é eterno.
Eu acredito no AMOR!!!
"O amor abre o coração, desprotege o espírito, acorda o corpo e aquece a alma." - Margarida Rebelo Pinto

Um comentário:

  1. Difícil se torna comentar esta maravilha de exposição do "eu".
    Parabenizar é pouco, é um chamado a reflexão de cada "procura" que a noite muitas vezes reserva.
    É o "gato pardo" das noites.
    Beijos.

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