quinta-feira, 21 de julho de 2011

Desapego

Definitivamente a separação tem alguns passos que passamos querendo ou não. Guardando as peculiaridades de cada caso, acredito que são parecidas independente dos casais que se separam.
Penso que os casais que abrem mão do casamento, quando há uma terceira pessoa envolvida, a dor não deve ser tão grande, pois necessariamente o vazio não se concretiza. Mesmo quando chegamos ao ponto de entender e aceitar que não está mais dando certo e que, tem grande chance de não dar certo nunca mais, e por isso damos o primeiro passo à frente, como que prontas para um fuzilamento, lá pelas tantas temos que olhar no fundo dos olhos da dor.
Poderia dar um nome para essa dor: desapego.
E essa senhora é tão ardilosa, que deixa que a gente pense que já está tudo desapegado. Doce e ilusório engano.
Fiquei frente a frente com a “Sister Desapego”, quando eu nem imaginava que ela estava a me rondar e dando risadas da minha ingenuidade.
Um ano antes da minha separação, estávamos fazendo planos para reformar o quarto que estava com mofos nas paredes (ironicamente como o nosso casamento) e o armário que nos acompanhou durante quinze anos, não resistiria a ser desmontado e montado novamente, depois de várias mudanças.
Ah, o armário... Peça física, com gavetas, prateleiras, cabideiros, calceiros, sapateiros e impregnado da minha história de amor, esperança e sofrimento.
Quando o senhor meu ex-marido saiu de casa, é evidente que como todo o macho, deixou para trás além das marcas de tristeza no meu coração, muitos objetos e roupas, no dito armário, afinal precisava mostrar que o território ainda era dele.
E eu, fugindo do sofrimento que iria enfrentar depois, não me indignei com essa atitude, afinal quando fiz um pequeno ensaio de revolta e pedi para que ele levasse tudo que era seu do apartamento, ele, aos berros, disse que eu devia entender que ele estava se organizando, pois estava saindo da casa para que eu ficasse.
Que pessoa terrível seria eu se não entendesse... E por isso, entendi.
Mas eis que por razão da minha rinite, precisei tocar adiante o projeto do “tira os mofos”, e obviamente, tinha que encaminhar o dito armário, para o seu fim.
Sou uma esotéria-espírita, uma definição que não existe, mas que para mim quer dizer uma pessoa que acredita na força da energia que irradiamos e na sobrevivência do espírito após a morte do corpo, com todos os detalhamentos que isso significa. Com isso, acredito que os objetos ficam imantados com a nossa energia, seja ela boa ou ruim. E não poderia ser diferente em relação ao armário em questão.
Esse objeto foi comprado a partir de um sonho que tivemos de mudar o nosso quarto. Levamos dois dias montando peça por peça, desde a colocação das dobradiças até a colocação dos puxadores, e desde então vinha nos acompanhando por mais de quinze anos. Ele tinha vida, estava impregnado da nossa energia.
Quando que eu descobri os meus sentimentos em relação a ele (armário)? Na sessão de terapia dessa semana, em que eu me dei conta, junto com a minha terapeuta, que eu não estava conseguindo esvaziar o armário, pois isso significava mais um passo da concretização da morte do meu casamento.
A sessão de terapia terminou com o seguinte comentário da minha terapeuta: vai ser muito difícil esse momento.
E foi...

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