quarta-feira, 27 de julho de 2011

Museu dos relacionamentos desfeitos

É irônico que quando passamos por algumas situações, uma coisa vai puxando a outra, como que se houvesse uma força invisível que atraísse para nós fatos que se assemelham ao que estamos passando no momento.
E há essa força invisível. As teorias da física quântica, por exemplo,  estão aí para mostrar que a força do nosso pensamento é poderosa o suficiente para atrair forças de igual sintonia.
Eu diria que não é só isso. Em alguns momentos estamos mais perceptivos e notamos algumas coisas, que antes nos passavam desapercebidas. É uma questão de foco.
Pois que, depois do sofrimento do desapego, no fim de semana, um jornal em um dos seus cadernos, publica uma matéria sobre “inventário do amor que acabou: museu dos relacionamentos desfeitos chama a atenção para a preservação das recordações afetivas”. Esse título torna claro do que se trata a matéria. E eu, com tudo amontoado na sala de estar, de um apartamento microscópico, não poderia deixar, depois de ler a matéria, parar na parte da sala que é possível transitar, ficar olhando demoradamente para os objetos acomodados uns por cima dos outros,  e pensar em qual objeto eu colocaria no museu.
A proposta do museu dos amores desfeitos, além de mostrar a fragilidade dos laços humanos, é contextualizar a época em que tais histórias aconteceram.
Precisei pensar muito em qual objeto eu escolheria para colocar no museu. Não queria que fosse um objeto ou presente que me deixou feliz ao recebê-lo. Teria que ser algo significativo e que tivesse a ver com o processo de desamor, que fez com que nosso casamento acabasse.
É claro que encontrei o objeto. Foi o último presente de aniversário que ganhei do ex. A começar pela forma como foi escolhido, foi revelador como já estava sendo um peso escolher algo para mim. Ele pediu que eu fosse junto, me levou no centro da cidade, na joalheria de um conhecido maçom e escolheu uma medalha com o símbolo da maçonaria: Você gostou?

Se eu gostei? Sinceramente isso não importava mais, pois se eu dissesse que não, isso provocaria um mal estar que não valia à pena provocar. Sim, estava bom, desde que não brigássemos, foi o que pensei naquele momento. O que me marcou nessa situação não foi o que ele tenha pensado ao escolher esse presente, mas como eu me senti: não importava mais. Isso me sinalizava que o fim estava próximo.

E queiramos ou não, os objetos estão impregnados do sentido que damos para eles. O que importa na verdade são os nossos sentimentos, a forma como lidamos com as nossas emoções, o quanto vamos deixando para trás os nossos sonhos, o nosso amor próprio. E se não nos amamos, ou pelo menos nos respeitamos a ponto de não nos colocarmos em situações que nos farão mal, não temos como cultivar uma relação amorosa saudável.

Se vamos morar junto, separados, teremos a mesma profissão, profissões diferentes, salários iguais ou diferentes, teremos a mesma faixa etária,  a mesma religião, ou teremos crenças políticas opostas... Isso realmente não importa, quando entendemos que a essência do ser humano não está somente no que ele mostra, mas no que ele mostra e acredita, e essa diferença é sutil, mas perceptível aos olhos do coração.

Que a águia tenha coragem de sair da caverna da transformação para reconstruir o seu novo lar, mas que ela não despreze o seu passado nem se esqueça das dores da transformação. Que essas dores não a paralisem, mas a tornem forte para voar, se aventurar por novas paisagens e acompanhar seus filhotes à distância.

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