segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

A viagem

Quando pensei nesse título para o que pretendo escrever, lembrei-me de uma novela que tratava do tema da vida após a morte, cujo título era o mesmo.
A experiência que vivi durante dez dias tem a ver  com vida em vida. Vida durante a vida do corpo, mas não posso deixar de me referir à vida espiritual.
Em vários momentos vou falar sobre isso. É o que acredito como filosofia, embasada pela ciência e permeada pela religiosidade. A verdadeira vida é a vida do espírito.
Existem vários livros que podem esclarecer sobre esse assunto, desde os mais complexos até os mais básicos que ajudam o leitor a conhecer um pouco sobre reencarnação, vida no astral, energias cósmicas e acima de tudo, a energia do amor que atravessa milênios em diversas encarnações.
Prefiro falar da energia do amor, embora saibamos que o ódio também é responsável por vários desatinos que exigem vários séculos na tentativa de reparação, mas não como um castigo divino e sim como uma maneira de voltar a se harmonizar com as energias supremas.
Lancei-me então em uma viagem de mais de quinhentos quilômetros, aceitando o convite de Angel para conhecer a sua família. No meu íntimo, acreditava que a convivência diária e a experiência de conhecer, por exemplo, sua mãe que é um ano mais moça do que eu, não daria certo e, no retorno, seria mais fácil de buscar outros caminhos.
Eis que, para minha surpresa, a convivência foi muito tranquila, num misto de respeito de cada um de pelas diferenças, uma sintonia sexual surpreendente e uma família que me recebeu com respeito e tranquilidade.
Sou uma pessoa, ou pelo menos era até então, que tem grandes dificuldades em ficar parada. Quando era casada e íamos para a praia nas férias para ficar uns vinte dias, levava uma sacola com livros, além de um quebra cabeças, com no mínimo, cem peças. A possibilidade de não ter nada para fazer me apavorava. E aquela citação de que cada um tem seu tempo é verdadeira, pois eu ainda não me dava conta de que a minha convivência com meu ex-marido já era vazia, estéril, desprovida de desejo e amor.
A cidade de Angel é pequena. Os programas que realizamos foram desde idas ao hotel fazenda para andar a cavalo, pesque-pague, pesca no rio nos fundos da sua casa, caminhadas, muito chimarrão e momentos de proximidade que são indescritíveis.
Nessa viagem começamos a alinhavar a possibilidade de morarmos juntos.
Tenho grandes desafios para enfrentar. Procuro colocá-lo a par da realidade e do quanto a vida não é romântica e nos cobra posturas firmes, iniciativas e escolhas a serem feitas. Procuro dizer que sou uma pessoa com muitos defeitos, mas Angel no seu momento de apaixonamento não consegue vê-los, enxerga apenas as minhas “manias”. Perguntou-me sobre os seus, e confesso que também tive um pouco de dificuldade para sinaliza-los, a não ser o fato de que ele está muito ansioso para morarmos juntos.
Isso me assusta um pouco...
Em alguns momentos fala sobre o quanto é difícil ficarmos afastados e posso sentir quase uma tristeza na sua fala. Não o quero triste, pois já fui triste e ansiosa por amar demais e sei o que isso significa.
Lendo  um artigo, escrito por um psiquiatra, que falava sobre os analfabetos emocionais, ele  coloca que não somos responsáveis pela maneira como o outro elabora as suas emoções.
Realmente meu ex-marido não foi responsável pelos meus momentos de angústia, por estar longe dele, pelos momentos de tristeza quando estávamos afastados durante seus cursos, ele foi apenas  responsável pelas marcas que deixou por não me respeitar.
Desta forma, também não tenho o poder sobre esses sentimentos de Angel. Quero  respeitá-lo e estou aprendendo a amá-lo. E reaprender a amar é algo que parece fácil num primeiro momento, mas saibam que depois de um relacionamento em que ficaram marcas de dor e mágoa, voltar a amar é um aprendizado. Eu pensava que quando voltasse a amar eu me entregaria feliz e contente rumo ao mundo do amor... Não é bem assim...
Ontem quando estava me despedindo de Angel, ele novamente me surpreendeu dizendo que me percebe como um presente que ganhou de Deus, mas frágil como um fino cristal, que pode se quebrar se não for cuidado. Olhei para ele num misto de surpresa e admiração e pensei: finalmente eu não preciso mais me mostrar forte, decidida e dona de todas as respostas, posso me mostrar encantadoramente mulher!


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